Manuel era neto de Manelinho Abelha, um apicultor da região de Idanha-a-Nova. Avô e neto eram os maiores amigos um do outro.

Em vez de um cãozinho ou de um gato, Manuel tivera nas abelhinhas os seus insectos de estimação.

Aprendera a brincar tranquilo entre tufos de rosmaninho e alfazema, laranjais e hortas, onde pontuavam as ervilhas de cheiro.

Quando um dia rumou à cidade para fazer os estudos superiores, manteve-se a par das tropelias das abelhas através das cartas que trocava com o avô. E não adormecia sem engolir uma colher do mel mais doce e perfumado que o mundo havia de conhecer.

Manelinho Abelha queixava-se de que as voltas do homem para matar os insectos maus trocara as voltas aos insectos bons e agora, abelhas e joaninhas diminuíam de ano para ano.

O feitiço voltara-se contra o feiticeiro. Manuel lia e pensava; não admitiria perder o gosto do mel que lhe acalentava o coração e lhe revigorava a saúde. Estudou muito, viajou, trocou impressões com novos e velhos. E um dia, regressou a casa com as sementes de flores para as abelhas.

Envolveu Manelinho Abelha num abraço e prometeu-lhe alterar o curso das coisas, trazendo de volta as fadinhas polinizadoras, verdadeiras artesãs desse néctar dourado que é o mel.